Neste dia 15 de outubro de 2014 quero prestar homenagem a todos os professores de Poxoréu, de Mato Grosso e do Brasil. Homenageio a todos com o poema "O Velho Professor", ao tempo em que me recordo de minha colega de Pedagogia, a profª Rosália, que gostava de recitá-lo e que hoje não está mais conosco.
O VELHO PROFESSOR
Anda muito doente o velho professor...
Por isso, ele não tinha agora o mesmo ardor,
que outrora o possuía e que o animava dantes.
Às vezes, quando em aula, havia mesmo instantes
em que inclinava a fronte (aquela fronte austera
onde já desbotara a flor da primavera)
e cochilava um pouco, involuntariamente.
O velho professor andava muito doente.
Era, porém, tamanho o bem que nos queria
que jamais quis pedir aposentadoria
e manter-se do Estado, á custa dessa esmola.
Era sempre o primeiro a aparecer, na escola,
com joviais maneiras, tão simpáticas,
não obstante sentir umas dores tão reumáticas
que o faziam sofrer muito, ultimamente.
O velho professor andava muito doente...
Um dia ele chegou mais tarde, alguns momentos.
Trazia nas feições sinais de sofrimentos...
A palidez do rosto, os olhos encovados
denunciavam seus pesares ignorados.
E, como para tornar a dor mais manifesta,
cravars-se-lhe fundo uma ruga na testa.
Franzia-lhe o rosto uma expressão de dor,
Andava muito doente o velho professor.
A aula começou... mas, pouco depois das onze,
o velho mestre, o bom trabalhador de bronze,
(que já perto de trinta anos ou mais, havia
que - gigantesco herói - lutava dia a dia,
para a glória da pátria e para o bem da infância,
dando batalha ao vício e combate a ignorância)
sentindo de uma dor os agudos abrolhos,
curvou as nobres cãs, cerrou de leve os olhos.
Fora fugia o sol. A manhã era calma.
Sorrindo, a natureza abria a sua alma
repleta de alegrias e cheia de esplendores.
Pela janela aberta, entrava o hálito das flores;
em toda a atmosfera azul, lavada e fina,
ressoava baixinho, assim como em surdina,
um canto celestial, harmonioso e suave,
anjos tocando, em harpa, alguma canção de ave.
Nisto ergueu-se um aluno, um pândego, um peralta
fabricou de um jornal um chapé de copa alta,
e bem devagarinho (oh! que idéia travessa)
chegou-se ao mestre... zás! enfiou-lhe na cabeça.
E rápido se foi de novo ao seu lugar.
O mestre nem abriu o sonolento olhar.
E aquele aspecto vil de truão de improviso,
rebentou pela aula estardalhante riso.
De súbito, surgiu o diretor, na aula...
Desmudou-se-lhe o gesto, estremeceu a fala,
quando ele, transformando s sua mansidão de boi
em fúria de leão nos perguntou: "Quem foi?
Quem foi esse vilão que fez tal brejeirice,
sem respeito nenhum às cãs desta velhice?
Vamos lá! Sede leais e francos,
dizei: quem ofendeu estes cabelos brancos?"
Mas ninguém denunciou da brincadeira o autor!
Como um truão dormia o velho professor!
O diretor, então, chegou-se junto à mesa...
Via-se-lhe no rosto, o incômodo, a surpresa,
de que o sono do mestre assim se prolongasse.
Curvou-se meigamente e levantou-lhe a face.
Mas recuou tremendo, aterrado, absorto,
aniquilado e mudo... O Mestre estava morto.